O primeiro cosplay no Brasil
No dia 25 de fevereiro de 1996, a Abrademi comemorou seu 12º aniversário de fundação com uma festa, mas não uma simples festa. Havia bolo, havia salgadinhos, mas havia exposições de mangá, exposição do painel gigante pintado à mão, com todos os personagens de séries de anime exibidas na TV brasileira até então, de esculturas dos Cavaleiros do Zodíaco, do Ultraseven e outros personagens, exibição de desenhos animados, músicas de animê, presença ao vivo do Kamen Rider, entre outras novidades que pronunciavam que um evento desse tipo deveria crescer ainda mais.
A data também marcou o lançamento da revista-fanzine AnimeClub, da Abrademi, em todas as bancas de São Paulo e Rio. Profissionais de quadrinhos e de várias editoras, além dos diretores regionais da Abrademi, marcaram presença. O público estava tão interessado, que o evento programado para começar às 15 horas, teve que começar antes, já que todos estavam aguardando na porta da Associação Shizuoka, em São Paulo.
Apesar da própria revista AnimeClub trazer uma matéria com o título “O mundo cosplay”, apresentando exemplos do que era feito no mundo por cosplayers, no Brasil não havia ainda pessoas que se vestiam como seus personagens prediletos. Houve sim, por iniciativa da própria Abrademi, a participação dos associados Rodrigo dos Reis e Fábio Hara nos eventos vestindo as roupas originais de Red Mask (super-sentai) e Black Kamen Rider (tokusatsu), no ano de 1993, mas estes não poderiam ser chamados de cosplay, uma vez que eram roupas originais usadas nas respectivas séries e trazidas ao Brasil pela Tikara Filmes, detentora dos direitos desses personagens.
A Abrademi tomou a iniciativa de procurar a escola de samba Vai-Vai, de São Paulo, para aprender sobre as fantasias usadas no Carnaval. É que os desfiles do Rei Momo conseguem um ótimo efeito visual utilizando materiais baratos e fáceis de achar. Gentilmente, o diretor da escola de samba mostrou as fantasias do ano anterior e explicou como eram feitas, e como escolhiam os materiais.
A partir desse contato, a primeira fantasia de animê foi feita no Brasil e foi o de “Mu de Áries” (de Cavaleiros do Zodíaco), confeccionada pela Cristiane A. Sato, hoje presidente da Abrademi. Ela usou a fantasia no 12º aniversário da Abrademi, em fevereiro de 1996, sendo a primeira cosplayer do Brasil** em evento de mangá e animê.
A notícia correu rápido pelo Brasil (e olha que não havia internet na época), e prevendo que haveria muitos cosplayers, a Abrademi anunciou o primeiro Concurso de Cosplay do Brasil, para a 1ª MangáCon, realizada no dia 13 de outubro de 1996. Este também foi a primeira convenção de mangá e animê realizada na América do Sul.
Na 1ª MangáCon (fotos), no primeiro concurso de cosplay a votação aconteceu por aclamação do público. Venceu a Judy Togashi com a fantasia de Saori de Cavaleiros do Zodíaco. não temos número exato de concorrentes. Nesse evento já houve um show da cantora Miyuki Morikawa (hoje apresentadora da Radio Banzai) e entrega do troféu Seiyu aos dubladores mais votados. Neste ano foram homenageados Gilberto Baroli (dublador e diretor de dublagem), Cláudio Seto (desenhista de Curitiba (PR) que faleceu em 2008) e os cartunistas Jal e Gual (incentivo à Abrademi), que são os criadores do troféu HQ Mix, que continua até hoje no Sesc Pompeia.
Na MangáCon 2 (fotos abaixo), no dia 12 de outubro de 1997, o concurso de cosplay teve 25 concorrentes, vencendo a carioca Aline Santangelo (Koto, da série Yu Yu Hakusho) empatada com a mineira Suzane Soares (Mokona de Rayearth). Nesse mesmo dia, na parte da manhã, foi realizado o primeiro passeio de cosplayers pela Liberdade. A pioneira ideia teve dois objetivos. Um objetivo prático é que o salão já estava superlotado e a saída de parte do público deu um pouco de alívio. O outro objetivo foi para que os cosplayers se desinibissem caminhando em grupo, e se acostumassem a usar suas fantasias na rua. O grupo saiu da Associação Shizuoka, na rua Vergueiro, onde estavam, passaram pela avenida Liberdade e foram até a praça da Liberdade. Esse passeio Histórico foi gravado em vídeo pelo Wladimir Vale, da Abrademi Rio. (veja o vídeo no link do YouTube)
O sucesso do cosplay era tão grande, que a festa de 14 anos da Abrademi teve o título de “Cosplay Party”. A festa realizada no dia 1º de fevereiro de 1998, contou com a presença de fundadores da Abrademi e de convidados como a cantora Celina Yamao e dubladores como a Noeli Santisteban, que fez a voz de Goku de Dragon Ball. No concurso de cosplay, o primeiro lugar ficou para a chilena Karin Gisel Rodrigues, como Kurama, de Yu Yu Hakusho.
Na MangáCon 3, no dia 11 de outubro de 1998, o concurso de cosplay teve 82 concorrentes, vencendo Ellen Tavares (Águia), Glauco Tavares (Jeddah) em segundo, e Daniel Martinelli (Irmãos Toguro) em terceiro.
Shows da cantora Celina Yamao e do cantor Luis Henrique e sua banda (que gravou os temas do Yu Yu Hakusho no Brasil) e show de dubladores comandado por Elcio Sodré.
Na MangáCon 4, realizada nos dias 2 e 3 de outubro de 1999, participaram do concurso de cosplay 72 inscritos. Canin Dragon, de Jiraya, representado por Vladimir de Oliveira, de São Paulo, venceu o concurso. Em segundo ficou Bárbara Linhares, de Ponta Grossa (PR), com Suu de Clover, com asas feitas pela Suzane Soares, de Uberaba (MG). O terceiro lugar ficou para Hiei, de Leonardo Adaniya, segundo os jurados, mas o mesmo recebeu também um prêmio especial por ter sido o escolhido pelo público.
A festa de 16 anos da Abrademi, que recebeu o nome de MangáFest 2000, foi realizada no dia 26 de fevereiro de 2000. No concurso de cosplay participaram 55 pessoas. A MangáCon 5, realizado nos dias 7 e 8 de outubro de 2000, registrou 97 inscritos para o Concurso de Cosplay, vencendo Daniel Martinelli Sicchi, com o cosplay de Dr. Shimazaki, de Angel of Darkness, com a “criatura” da barriga que se mexia. E foi a última MangáCon.
**Em termos de título de 1º cosplayer de fato, sem considerar os eventos de mangá e animê, deve ser creditado ao Diego Fernando Ferreira, que desfilou com uma fantasia de Saint Seiya no baile de Carnaval do Floridiana Tênis Clube, de Rio Claro/SP. O evento foi realizado nos dias 26 e 28 de fevereiro de 1995. Diego tinha então 7 anos de idade e a fantasia foi confeccionada pela sua mãe, que sempre fazia as fantasias do garoto para o Carnaval. Atualmente, Diego é empresário e atua na área de mídia e engenharia. Fotos fornecidas pelo seu irmão Romulo e autorizadas para publicação nesse site.
Ao utilizar este texto, favor citar a fonte:
www.abrademi.com – autor: Francisco Noriyuki Sato, presidente da Abrademi de1984 a 1986 e de1988 a 1996.