Abrademi e o Mangá no Festival do Japão 2005
Hoje, o mangá está presente em todos os eventos de cultura japonesa, mas nem sempre foi assim. Foi a Yukimi Wada Arikita, coordenadora do Festival do Japão e presidente da Associação Cultural Nara Kenjin, que resolveu adotar um tema para o Festival, definindo que, no próximo ano, o tema seria “animê e mangá”, pelos mesmos serem apreciados pelos jovens.
Yukimi, que havia cuidado da área de comunicação do Banco América do Sul, convocou uma reunião no dia 12 de novembro de 2004, na sede da Nara Kenjin, então na rua Machado de Assis, na Vila Mariana. Várias pessoas foram chamadas sem muito critério, inclusive desenhistas e fãs. Um dos convidados foi Francisco Noriyuki Sato, diretor da Abrademi. Outras reuniões foram realizadas, com menos participantes, inclusive uma na sede da Federação das Associações de Províncias Japonesas – Kenren, organizadora do Festival, na Liberdade. O projeto acabou crescendo. Se nos Festivais do Japão mais recentes o tema apenas figura nos cartazes, não se trabalhando o assunto, naquele Festival de 2005, o tema “animê e mangá” deveria ter várias atividades dentro do evento, como exposições de mangá, exibição de animês, palestras e debates, com profissionais renomados trazidos do Japão.
Assim, no dia 15 de dezembro de 2004, foi realizada uma reunião no Consulado Geral do Japão, para solicitar a vinda de Hayao Miyazaki. Claro que ele não viria. O diretor de “Totoro” nem foi buscar o Oscar que ele ganhou anos mais tarde. Para essa reunião, Noriyuki convidou Takashi Tikasawa, que organiza o Anime Friends, uma vez que a Abrademi não estava mais organizando o MangáCon e achou melhor contar com a sua co-participação.
Enquanto aguardava a definição do convidado japonês, a idealizadora Yukimi faleceu subitamente em janeiro de 2005, deixando o Festival órfão do seu grande entusiasmo. A Yukimi também foi a idealizadora do Espaço Infantil, que continua até hoje. Kenren parou de falar com a Abrademi e a ideia estava sendo esquecida. O silêncio foi quebrado apenas dois meses antes do evento, com uma reunião no Kenren com o seu presidente Koichi Nakazawa.
Agora havia muito pouco tempo para trabalhar o tema. Noriyuki combinou com o voluntário coordenador da área de Animê e Mangá do Festival, Fausto Shiraiwa, para ir ver o espaço do Centro Imigrantes, no dia 17 de maio. O único espaço disponível era o da arquibancada, que na sua parte superior coberta conta com um espaço para exposições e oficinas. A Abrademi pediu ao Takashi Tikasawa a devolução das esculturas do Ultraman e do Red King, que foram emprestados para o Anime Friends (AF). Só Ultraman retornou, mas avariado, e o Red King havia sumindo.
A Abrademi teria que restaurar o painel “Mundo do Mangá” de madeira medindo 6 metros de comprimento e a escultura do Ultraman. Associados e colaboradores se revezaram trabalhando na reforma todos os dias. O associado Elthon Nakashima foi o líder desses trabalhos, que foram realizados nos fundos do escritório do Noriyuki.
Os pôsteres de papel também receberam molduras de papelão colorido, enquanto outros painéis de papel receberam reforços. Depois de terminado, foi contratada uma transportadora para levar o material até o Centro Imigrantes.
Nos dias 15, 16 e 17 de julho de 2005, foi realizado o 8º Festival do Japão, pela primeira vez no amplo Centro de Exposições Imigrantes. Até então, o evento ocupava o estacionamento da Assembleia Legislativa, no Parque do Ibirapuera. A ilustração do cartaz e da camiseta do evento foi feito por Fábio Shin da Japan Sunset.
O tema “mangá” ocupou também o auditório, onde foram realizadas as palestras do diretor japonês Megumu Ishiguro, do diretor Walbercy Camargo, autor da animação “Grilo Feliz”, da professora Dra. Sonia Luyten e da Cristiane A. Sato da Abrademi. Houve o lançamento oficial do animê “Kahei no Umi”, de Ishiguro, e exibição de animês do diretor Leiji Matsumoto. O filme de Ishiguro foi sucesso de público, que lotou as duas sessões. Na área de entrada do auditório, a Livraria Animangá fez uma exposição de posteres do seu acervo.
Enquanto isso, na arquibancada, onde Ultraman de isopor fazia pose, a Abrademi fez o que pôde para manter a programação sem parar. Além das exposições, havia oficinas de mangá da Escola Atelier de Roberto Otsu, kirigami da Naomi Uezu, lojinhas de brincos de origami da Margarethe Shibuya Itai, etc. A locação do espaço pelas lojinhas serviu para pagar todas as despesas da área de Animê e Mangá.
O trio Oriental Magic Show, contratado pela editora JBC, apareceu para enriquecer a programação, mas a maior parte das apresentações do espaço foi arrumada pela Abrademi, como show de cosplay do grupo Hokage, taikô da Suzana Goto, sorteios, exibição de animês e tokusatsu, etc. O grande problema aconteceu logo no primeiro dia, quando a parede instalada pela montadora do evento não suportou o forte vento do local e teve quer ser retirada para não colocar em risco os visitantes, e parte da exposição teve que ser desmontada. O diretor da Abrademi-Rio, Allen Wajnberg, veio especialmente para ajudar no evento.
Como o Anime Friends foi realizado nos mesmos dias do Festival do Japão, foi combinado que Takashi traria os cantores japoneses para fazer um show acústico no Festival e assim divulgar o seu evento, mas isso não foi cumprido pelo empresário.