A Estética Andrógina na Moda Japonesa é tema de palestra com Cristiane Sato

No dia 21 de junho de 2007, Cristiane A. Sato, autora do livro Japop – O Poder da Cultura Pop Japonesa, ministrou uma palestra no Mendes Convention Center, em Santos, durante o Festival da Imigração Japonesa.

A palestrante iniciou explicando que a nossa formação religiosa contribui muito para a nossa estética. No Japão, cuja maioria é budista ou xintoí­sta, a ideia do andrógino parece mais natural. No ocidente, por causa do monoteí­smo, a imagem que temos de Deus é de uma pessoa do sexo masculino. No Japão considera-se a existência de vários deuses, e os mais lembrados são do sexo feminino. Existe até uma lenda, do Takeru Yamato, que é um herói cujas aventuras são contadas para as crianças. Takeru, filho de um rei, tinha provavelmente feições afeminadas. Seu pai ordenou que ele se vestisse de mulher e fosse até o paí­s vizinho apresentar uma dança ao rei local. No meio da sua apresentação, quando o rei e seus acompanhantes estavam entretidos com a beleza da dança daquela “mulher”, Takeru sacou sua espada e matou o rei.

moda japonesa2Atualmente há¡ muitos elementos de moda japonesa sendo usados pelas brasileiras – tantos que a maioria das pessoas mal sabem que são intrinsecamente japoneses. O mais flagrante está na Área de calçados: oszõris modernizados (sandálias tipo havaianas de plataformas altas, largas e decoradas) são uma preferência nacional. “Marcar a cintura com obisestilizados e bordados sobre blusas, camisas e vestidos para sair à noite é algo que vejo com alguma freqüência. Este ano em especial tenho visto muitas blusas e vestidos cache-coeur de gola reta, que lembram muito quimonos” disse Cristiane. Em algumas “tribos” adolescentes já há algumas meninas usando botas de saltos extravagantes com saias de babados, seguindo o estilo exagerado das adolescentes que vão passear aos fins de semana em Harajuku (a diferença é que no Brasil elas optam pelas cores preto, branco e cinza, enquanto no Japão mistura-se tudo quanto é cor e estampa e textura). Pouca gente sabe, mas a sobreposição de regatas sobre camisetas e vestidos sobre calças, hoje tão comum, começou a aparecer no início dos anos 90 no street fashion japonês. Na época observadores ocidentais achavam que aquilo era um visual pobre e ridículo. Hoje todas as grandes lojas vestem os manequins com essas sobreposições, e sobrepor virou regra internacional em moda jovem.

moda harajukuEssa crescente influência japonesa na estética, na comunicação e no comportamento se deve ao fenômeno pop japonês. No Brasil o pop japonês, que também é chamado internacionalmente de Japop (contração de Japanese pop culture), é um assunto recente, mas no exterior já é um fenômeno reconhecido há pelo menos uma década. Após ter sido arrasado na Segunda Guerra, o Japão conseguiu dois feitos ainda inigualados por outra nação no mundo: tornou-se a segunda maior economia do planeta e foi o único país no pós-guerra a conseguir quebrar a hegemonia norte-americana na exportação de influência cultural. A cultura popular contemporânea japonesa é mistura de industrialização com costumes bastante particulares e milenares, e essa convivência de elementos que parecem antagônicos é o que fascina o mundo. “Tudo que está relacionado a uma história de êxito nos fascina, e acho que é por isso que estamos cada vez mais nos abrindo à influência japonesa”.

O street fashion japonês é um estilo produzido por e para tribos jovens, urbanas e globalizadas. Nesse caso específico, acredito que o estilo vai ser adotado por esse perfil de público, mas acho difícil que o público em geral, ou de uma faixa etária mais avançada, use esse visual. O street fashion japonês exige ousadia e uma quebra de regras de convenções de moda ocidental que nos são incutidas desde que nascemos, e por isso creio que esse visual vai enfrentar uma certa resistência mesmo entre jovens. Também é preciso considerar que no Brasil as pessoas possuem um conceito tropical de sensualidade quando o assunto é moda. Aqui todo mundo, em forma ou não, usa roupas justas, calças com cintura baixíssima, grandes decotes, blusas e saias curtas, e as roupas do street fashion japonês característico são largas, pouco ajustadas. Além disso, não sei qual seria a reação das pessoas, por exemplo, ao visual rorikon(“complexo de Lolita”, mulheres que se vestem de forma infantilizada exagerada) ou ao visual bikeiboy (“rapaz de belo formato”, homens que se maquiam e que usam roupas inspiradas em cantores de rock andróginos dos anos 70).

A palestrante apresentou ainda alguns vídeos de músicos da década de 70, como Elton John e David Bowie, cujos figurinos foram criados pelo japonês Kansai Yamamoto. Outros vídeos apresentavam cantores japoneses no estilo andrógino, como Kenji Sawada e o grupo Glay.

Sobre Cristiane Sato

sato2007_187Formada em direito pela USP – Universidade de São Paulo, é presidente da ABRADEMI – Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações, e colaboradora do site www.culturajaponesa.com.br. Escreve artigos sobre mangás, animes e história do Japão para diversos veículos de comunicação. Ministra palestras sobre cultura japonesa e atuou como tradutora de animes para a televisão em 1996. Com essaexpertise criou o MangáCon, evento que se tornou referência entre fãs de mangás e animes no Brasil.

Como autora, Cristiane Sato assina o JAPOP – O Poder da Cultura Pop Japonesa e é co-autora da História do Japão Ilustrada.


Festival da Imigração Japonesa no Brasil – Desfile Moda Japop 

Data: 24 de junho de 2007
Horário: 14h30
Local: Mendes Convention Center
End.: Av. Francisco Glicério, 206 – Gonzaga – Santos

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